Hoje
não é o melhor dia pra sair de casa e andar pelas ruas da UNICAMP.
Principalmente pelas ruas próximas ao Barracão. Lá estará cheio de gente feliz
e empolgada, vivendo uma previa da vida universitária. Mas não é isso que me
incomoda, mas o que isso representa pra mim. E isso tem a ver, eu sei, comigo e
apenas comigo.
Essa
felicidade me causa algo como inveja. Algo com não. Inveja mesmo. É o maior
símbolo do meu fracasso. E o culpado sou eu. Não adianta eu por a culpa no
trabalho, dizendo que por causa dele eu não tive tempo de estudar. Eu não
estudei porque eu não quis. Simples assim. Não estudei por acreditar que, por
eu ter conseguido uma vez eu conseguiria duas, sem levar em conta as péssimas
notas nas ciências exatas no ano anterior. Depositei todas as minhas esperanças
nessa prova que não prova absolutamente nada. Me fodi por causa da minha
presunção.
Eu
prometi me dedicar aos estudos, me devotar aos livros e apostilas, falar sobre
equações matemáticas como se fossem corriqueiras e simples. Isso tudo pra
segunda fase. Quase comprei os livros da bibliografia da prova de habilidades.
Prometi decorá-los, todos eles. Fichar tudo. Mas de que adianta prometer isso
tudo e não passar nem na primeira fase? No dia que saiu o resultado do meu
fracasso, porque foi um fracasso, eu agradeci aos deuses por não ter conseguido
comprar os livros ao mesmo tempo que os questionava. Imagina se eu tivesse os
comprado! Eles seriam a materialização do meu insucesso na prateleira de casa.
Eu teria que encará-los todos os dias. E eles olhariam para mim dizendo “loser”
com um “L” igual ao que os personagens de “Glee” fazem, sabe?
O
que fez isso acontecer? O olho gordo das pessoas? As más energias? Praga? O
destino? Não. Fui eu. Pode ter sido todo isso que fez eu não ter estudado, me
esforçado como devia, sei lá, mas tudo, no fim das contas, fui eu que fiz. Quer
dizer, não fiz.
Vestibular
tem todo ano, sei bem disso. Vivo dizendo isso pros amigos que ficam
apreensivos, nervosos. Mas quando é com a gente, daqui um segundo é tarde
demais. As coisas têm que ser pra já. Pra ontem. Não da pra esperar por nada,
quem dirá um ano.
Eu
não consigo esperar por medo. Já falei disso diversas vezes comigo, comigo e
mais ninguém. Tenho medo de me acomodar, passar a vida fazendo algo que eu até goste,
mas que eu não ame. Mesmo sendo bem sucedido. Se for mal sucedido é pior. O
monstro do “e se...” cresce cada vez mais e é mais assustador ainda. Já
comentei sobre algo do tipo com uma amiga: eu prefiro a decepção à dúvida. Se
eu me decepcionar, tudo bem, eu sei lidar com isso muito melhor. Já a dúvida
não, ela persiste e cresce a cada dia, hora, minuto, segundo.
Enfim,
pra finalizar esse desabafo, gostaria de deixar claro que não pretendo angariar
a solidariedade das pessoas. Não quero ninguém dizendo “força, você consegue”,
“ano que vem tem outro” nem nada disso. Isso me soa como pena, e não há nada
mais detestável pra mim do que sentir que tem alguém sentindo pena de mim.